
quinta-feira, 29 de abril de 2010
Cheio

sábado, 24 de abril de 2010
Posso escrever as coisas mais tristes essa noite
e tiritam, azuis, os astros, ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a quis, e às vezes ela também me quis...
Em noites como esta eu a tive entre os meus braços.
A beijei tantas vezes debaixo o céu infinito.
Ela me quis, às vezes eu também a queria.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Que importa que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
Minha alma não se contenta com tê-la perdido.
Como para aproximá-la meu olhar a procura.
Meu coração a procura, e ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquear as mesmas árvores.
Nós, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a quero, é verdade, mas quanto a quis.
Minha voz procurava o vento para tocar o seu ouvido.
De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.
Já não a quero, é verdade, mas talvez a quero.
É tão curto o amor, e é tão longe o esquecimento.
Porque em noites como esta eu a tive entre os meus braços,
minha alma não se contenta com tê-la perdido.
Ainda que esta seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.
quinta-feira, 22 de abril de 2010
Mais um pouco de Carrero - Minha Alma é Irmã de Deus
Raimundo Carrero.blog
terça-feira, 13 de abril de 2010
Destino
Eu sonhava uma gota de suor disfarçada de lágrima, minha intenção era rolar pela sua nuca, deslizar pela linha central das tuas costas, lamber toda sua nádega e cair no lençol, para secar lentamente, debaixo das hélices do ventilador de teto. Mas nasci dos teus olhos, me estrupiei em teu nariz e fui sem querer engolido por tua boca. Sua língua logo me misturou com saliva e me tornei algo que foi engolido sem perceber.
Transpirávamos muito; todas as vezes que tentei te abraçar você me afastou com os braços, jogou o lençol no chão e por pouco não me jogou pra fora da cama, afastando as pernas e os braços, para que o ventilador pudesse refrescar cada canto do seu corpo. Você está com sede, perguntei, mas você não respondia, estava longe, voando pelos arredores do quarto ou da cidade, brincando de ser anjo ou de ser estrela. Me levantei sussurrando para o abajur, vou pegar um copo de água, tropecei no meu chinelo e por pouco não bati com o dedo na quina da porta. A casa inteira parecia um forno, meu pé deixava pegadas úmidas no chão e um segundo em que a luz da cozinha ficou acesa foi o suficiente para todo o lugar ficar infestado de mosquitos. Bebi um copo de água, pensei em fumar um cigarro, mas achei que você ia sentir minha falta e decidi voltar logo para o quarto. Tropecei logo nos primeiros de degraus, olhei para trás, não encontrei nada. Mal conseguia localizar o primeiro degrau da escada, a sala inteira estava engolida por um breu. Apoiei me na parede e olhei atentamente para o chão, o próximo degrau estava claro diante dos meus olhos, mas apenas ele. Dei um passo, depois o outro, fui subindo lentamente, mas lá pelo décimo degrau notei que a escada parecia não ter fim. Segui mais alguns passos e apenas distinguia o próximo degrau a minha frente, atrás, apenas o breu.