Quis te comprar umas rosas, mas não deixaram. Por mais que eu forçasse a passagem, implorasse e distribuísse socos e pontapés para tudo quanto é lado, não me deixaram. Ofegante, tentei convencê-los de que eram para minha avó, internada num hospital, cuja única felicidade, além dos programas de auditório, era receber as rosas que eu levava. Não mudaram a expressão, cruzaram os braços e parados, me encarando, deixaram uma frestinha entre as pernas para eu sair. Avancei em direção ao menor, e tentei empurrá-lo. Puxaram-me pela camisa, me jogaram no chão: de volta à estaca zero. Levantei batendo as mãos na roupa para tirar a sujeira, pó, e toda sorte de coisas que se pode encontrar na rua, e disse: está bem, hora da verdade. E com toda sinceridade menti dizendo que eram para minha mãe, cega, coitada. E caso não leve as rosas para casa, vai dizer horrores de mim, derrubar tudo ao seu alcance e, por semanas amaldiçoar o filho, que não dá valor à mãe, não a ama. Perguntei à cada um deles se tinham mãe. Se não conseguir essas rosas terei problemas para o resto da vida. O maior deles olhou por cima da minha cabeça e acenou. Notei mais três homens se aproximarem e me imaginei sendo carregado por eles, feito uma cadeira, para fora do lugar. No de óculos avancei, tentei pela primeira vez na vida acertar um soco
Quis te comprar umas rosas, quis mesmo, juro. E eu sei que vai bater o pé, reclamar que prometi, mil vezes; maldita hora que prometi. Mas não deixaram. Mesmo assim, invocará que eu segurava sua mão, encarava seus olhos, inclusive acariciei seu rosto, beijei sua boca. Como ia saber que não iam me deixar? Ela olhava o roxo no meu olho, o dente capenga na gengiva, para lá e para cá feito um balanço, o nariz meio torto pelo golpe derradeiro, e apenas dizendo: você prometeu.
Quis te comprar umas rosas, não deixaram.
R.B.
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