"Amanhã, por exemplo. Amanhã vou dar um fim nos pés de mamona. Amanhã mesmo vou comprar uma televisão e um forno de microondas (a minha ambição são as pipocas amanteigadas). Vou contratar uma empregadinha. Amanhã mesmo vou atear fogo nesta minha bela casa de praia com vista para o mar. Amanhã é o meu dia de ser feliz. Amanhã não vai ser diferente.
Resistir não é Resistir.
É sobretudo não ter ninguém. Mijar na pia. Dormir sobressaltado e ter pesadelos mesquinhos. Resistir é um dia inteiro de esquecimento. Um cachorro. Um cachorro, não. Resistir não é ser impetuoso e não é ser covarde. Resistir não é resistir. É saber que noites em que as coisas se perdem (esta noite um cogumelo brotou nos meus tímpanos). Assim é resistir onde tem poeira. Às quartas-feiras costumo ligar para os meus orientadores. E eles querem saber do movimento das marés - o que também faz parte da resistência.
Mas quem são eles?"
(Quem disse que resisti 30 anos? Marcelo Mirisola. Fátima Fez Os Pés Para Mostrar Na Chopperia. 2ª Edição. Editora Estação Liberdade. Pág.21)
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