Estive fazendo nos últimos dias um balanço de tudo que me aconteceu desde que decidi levar à sério esse negócio de literatura. Fatalmente, entre releituras das obras que continuam a mexer comigo tive que dar um carinho especial a um escritor: Marcelo Mirisola.
O Mirisola deve ser para minha prosa o que o Roberto Piva foi para minha poesia.
Conheci o trabalho do Mirisola antes de saber direito o que era literatura. Na época eu me divertia mais lendo Deleuze, Nietzsche, Schopenhauer e afins do que lendo romances. Até que numa terça-feira (salvo engano), seguindo recomendações, fui para a Saraiva do Shopping Ibirapuera com a minha mãe e uns nomes de livros anotados num papel. Voltei com 2: O Breviário da Decomposição do Cioran e o Azul do Filho Morto (engraçado como as coisas ficam tatuadas na nossa mente. Se sentar e pensar, posso me lembrar onde e como comprei alguns livros muito pontuais para minha vida).
Sei que deixei a mala da escola na sala (ainda estava na escola! Primeiro colegial!), e li, numa sentada, das 13:00 às 18:00, ou algo assim, e quando terminei não sabia muito bem o que havia acontecido comigo, me sentia diferente, isso podia dizer. Acho que foi meu primeiro raio literário certeiro. Antes já tinha lido algumas coisas: Feliz Ano Velho, Dom Casmurro, O Poderoso Chefão, mas a ponto de dar um estalo, não.
Certamente que depois disso muitos outros raios caíram e foram me trazendo para esse mundo das letras, mas acho que posso arriscar que apenas conheci Dostoievski, por exemplo, por causa do Azul do Filho Morto.
Mas porque diabos estou escrevendo isso? Porque como já disse, esses dias estava relendo alguns livros que anualmente separo e quando li Fátima Fez Os Pés Para Mostrar Na Choperia, senti algo estranho, algo que me acompanhou enquanto relia as páginas do Herói Devolvido e acho que vai me acompanhar enquanto releio o Azul do Filho Morto, Bangalô, etc.
Foi aí que eu entendi o quanto a obra desse cara é importante para a minha formação de leitor e escritor (mesmo sendo nossa escrita totalmente diferente). Foi aí que me toquei de como a obra dele foi importante para que eu viesse a dar a mínima para literatura, que viesse a entender que tinha muito mais além do zumbi Machadiano, do índio do Alencar. Foi daí que tive ímpeto para conhecer Dostoievski, Toltstoi, Bukowski, Márcia Denser, Mario Benedetti, Raimundo Carrero, João Ubaldo, Antonio Lobo Antunes e mais uma penca de escritores que me atingiram como raio e não me apresentaram na escola.
Ademais, acredito que é preciso ter um empurrãozinho para cair no mundo das letras, seja do pai, da mãe, de um amigo, de uma professora, etc, e digo com muito orgulho que acredito que o primeiro empurrãozinho que eu tive foi com o Azul do Filho do Morto.
Desta feita, visando homenagear um pouco este escritor, enquanto eu fizer minhas releituras de sua obra, colocarei alguns trechos, frases, pensamentos de sua autoria, para que, quem ainda não o conhece, possa conhecer, e talvez se sentir atingido por um raio também, e comece a ler mais, escrever mais, viver mais.
Enfim, não gosto muito de introduções, mas como este blog era um espaço que eu ia separar apenas para textos meus e pouquíssimas outras coisas, achei pertinente esclarecer. E outra, recordar é viver.
Talvez, eu faça a mesma homenagem a outros escritores também importantíssimos para mim, como a Clarice Lispector, Maurício de Almeida (toda vez que pego o Beijando os Dentes me surpreendo mais com a qualidade dos contos desse cara), ao Dostoievski, ao Raimundo Carrero, mas só o tempo dirá.
Comecemos. Espero que todos se divirtam.
Um comentário:
Olá André! Seu pai recomendou seu blog pra mim, goste! Tenho acompanhado. Também gosto muito de ler e às vezes escrevo. Parabéns e sucesso. Abs
Piero Capestrani (filho do Sandro Capestrani)
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