segunda-feira, 15 de março de 2010

Frutas

Fiquei com o gosto da tua fruta na lingua. Demorei para ouvir o barulho das buzinas; não conseguia arrancar os espinhas das suas mãos da minha atenção. Gostava de andar de ônibus para imaginar o silêncio que abafava as janelas com as luzes acesas. Os vidros do carro, mesmo pela manhã, refletem apenas a escuridão do medo, do rosto.
---- Eu não sinto o mesmo, me desculpe.
De novo, o gritar das buzinas invadindo a porta do meu carro, ofuscando a lembrança do céu sem estrelas do teto do seu quarto. Debaixo do teu teto tudo é de chumbo, triste, como se o dia nunca fosse raiar. Estou com o gosto amargo da tua fruta na minha boca inteira. Queria que essa buzina alfinetasse meus tímpanos para silênciar tuas últimas palavras:
---- Não posso pedir perdão.

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