domingo, 26 de junho de 2011

A solidão do mundo

A solidão do mundo se esconde nas dobras do meu braço,
A solidão do mundo se esconde nas dobras do meu braço,
A solidão do mundo se esconde nas dobras do meu braço.

Quero queimar todos os meus livros com o fogo da tua boca.
E de suas cinzas fazer um para para navegar,
e com seus personagens desfrutar um banquete derradeiro
com a lua milanesa e terra frita.

Os beats não irão embora nunca, querem conhecer Rimbaud da prateleira de baixo enquanto é tempo.
Os franceses não fazem nada para estancar as labaredas, apenas riem de mim,
com seus dedos me pregando na parede.
Os poetas seguem em fila com suas obras completas dentro de si.

Depois me livrarei dos discos, da guitarra, do violão, dos gringos, do Chico,
vou despojar de mim mesmo e correr o risco da nudez,
correr o risco da mudez,
que todas as as vozes pregadas nos edifícios,
que todos os balanços que se movem sem explicação,
que todos os arrepios, todos os calafrios,
que todos os suspiros de amor
são meus. Sou eu.

A solidão do mundo se esconde nas dobras do meu braço.
A solidão do mundo
se esconde
nas dobras
do meu braço.

R.B.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Para um filhote cheio de vida

Eu quero me afogar nos teus braços,
me abalroar nas tuas costas,
despencar da tua nuca,
para todas as tuas cartas chorarem de saudade e amor:

E agora? O que será de mim?

Lá na rua um filhote grita porque não quer morrer.
Não tem muitos meses de vida, é marrom, é branco, é negro, é abandono
e não quer morrer.

E agora? O que será de mim?

O telefone é uma ponte invisível de distâncias,
as manchas do céu avisam que ele não está de brincadeira,
nem os gatos na rua, nem as calçadas, nem as palavras adormecidas.

A saudade que eu sinto é um filhote,
que grita porque não quer morrer.

R.B.

Samba da angústia

Noel Rosa batuca um samba em marcha lenta na varanda da minha cabeça,
escrevo juras, promessas, sonetos nas coxas do tempo, que não tem fim.

Queria calar como cala a calmaria nos lábios das flores.
Espero um sinal que não chega tarde por que não chega nunca.

Noel Rosa batuca na mesa de ferro da minha garganta,
desenho teu rosto nas palavras presas no trânsito,
direita, esquerda,
buzinas de girassóis e jardins fantásticos no centro das avenidas,
direita, esquerda,
alheio ao tempo, ao sinal, ao samba, aos girassóis, aos meus restos,
ao seu rosto que não chega tarde,
que não tem fim,
que não chega nunca.

R.B.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Fica Bem

Os corredores do meu peito estão desertos, pilastras, bustos, carpetes das nossas fotografias, para a lente míope da câmera sem foco.
Não tenho coragem mais de me levantar, nem para pegar um copo d´água na cozinho; pode ser que eu tope com algo seu, você em forma de qualquer coisa, sei lá se antes de sair deu para se despetalar inteira, trocando todos os cheiros por seus cheiros, todos os cantos por seu canto, suave, em dó menor.
Os livros, você levou, as dedicatórias e as juras espatifam-se no chão da sala. Penso em ruas, rezas, recados derradeiros na caixa de remédios, mas lá só tem um Fica bem qualquer, daqueles que se diz depois de mil despedidas, mil lágrimas batidas, mil cupidos desenganados sem saber o que dizer na janela do meu quarto.
Fica bem que foi engano do sol, seu astro reluzente queimando outros lençóis, seus pés pelas manhãs guiados para outros chinelos, outras camisas.
Os corredores do meu peito, se quiser, são para você dançar com aquelas pantufas que você adora.
Os corredores do meu, são milhões de avenidas para você cruzar e dormir entediada com a paisagem, os mesmos lamentos rolando, rolando, rolando na paciência do rádio.
Estou com aquela camiseta que usava para dormir. Me perguntava fez ou outra, manhosa Fica bem?
Fica bem
E por isso não movo, não arredo o coração, não tenho gana de sair e dar com sei lá o que de você nos corredores do meu peito e ressuscitar uma sombra de beijo, com goticulas de saliva e um pequeno recado:
Fica bem.

R.B.

De tudo & Tanto


De tanto vento fez-se o tempo,
de tanto tempo teu corpo onírico,
encontro o momento mágico milagre em tuas mãos.
Ponta feroz do cílios dos cometas, nossos peitos fundidos num arrepio de gozo.

De tanta luz fez-se o calor,
os passos passam juntos,
deixamos nossas pegadas nas paredes dos hotéis de luxo
no centro da nossa cidade adormecida.

De tudo quanto eu tento,
os pés de cama suspiram em alheiamento,
teus lábios êxtase inteiro,
nossa casa, nossa caverna, esconderijo das preces contidas, recortes de jornal.

Teu hálito embriagando a janela,
as costas das minhas coxas agora fundidas nas suas.

De tanto amor fez-se o
mmmmmmmmmmmmmm.

Somos um pássaro voando sem destino na gaiola do universo.

R.B.
19.06.2011

Quintal



Os teus dedos fazem melodia, tocam música na curva das costas da noite; as pelúcias reclamam do frio e do sono, apoio meu queixo na sua coxa pra te ver dormir: sonos interrompidos pela curiosidade dos raios de sol, que não respeitam mais os limites das tuas pernas. Tosses, tosses, o retorno.
Tosses, tosses, o retorno.
O mundo cronometrando os sinais da sala de estar das varandas dos bocejos, das frases longas, que não caminham na ponta da tua lingua e somem, enquanto pequenas palavras
amor
não dormem nunca.
Fantasmas balançam meu berço de nuvem, mas apenas finjo dormir. Penso em como poemizar nossa história, surrealizar nossos feitos, tatuar teu cheiro e fazer com que nossos medos se aquietem num canto qualquer do quintal.

R.B.
madrugada de 18 de junho de 2011

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Trancado


Eu sou o tirano da minha voz escondida nas gavetas da cômoda, meus movimentos fórmulas milimetricamente mensuradas por um Deus sonolento, bocejamos juntos na ponta do abismo depois de um porre de vinho chileno, esperando, esperando. Vai você primeiro, e desconfiava dos toques, dos risos elétricos de desespero e ansiedade. Vai você primeiro, que eu tenho um mundo e filhos para cuidar. Na hora eu nem pensei em perguntar E não faço parte desse mundo, desses filhos, na hora nem pensei em fincar os pés no chão feito gato. Na hora nem pensei e me abismei como quem acha que sabe voar, braços alegremente abertos em sorriso. Aquele sonho de termos um minuto inteiro juntos, das contas pregadas na geladeira, das juras magnéticas indecifráveis, letras de plástico, tudo virou nuvem de um grito tirânico, voz escondida nas gavetas da cômoda, gavetas que eu não tenho coragem e nem posso abrir. Tranquei-as e esqueci as lágrimas dentro.

R.B

Quiromancia - Para Mariana


Na palma da tua mão me encontrei;
vida, coração, fortuna, amor.

Numa lombada funda tropecei e cai na linha da sua vida,
aprendi a ler, escrever e filosofar teu corpo.

Coração, Sol distante, pra lá dos antebraços, montanhas e nuvens de sorrisos intocáveis.

Ao topar com a linha da fortuna guardei meus poemas,
minhas visões na caixa dourada do inominado,
guardei tudo o que tenho, tive e terei,
para na linha do amor
me perder completamente,
para sempre.

R.B.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Folia


Os cachorros dos meus cinco anos brincam com a bola do tempo na porta do meu quarto, minhas professoras ululuam com tocos de giz, apagadores carecas e jalecos manchados pelos quatro cantos casa.
Ouço o estalar do chão, o chiado das unhas pintando o taco de madeira nova, os tombos, o latidos contidos para não me incomodar. Sinto o roçar dos dentes brancos, o castanho dos olhos se encontram para uma tarde de folia debaixo do Sol, como se o asfalto fosse grama, como se meu corpo fosse grama.
O tempo roeu o pé da minha cama numa tarde em que me tranquei no banheiro dos fundos para contar minhas histórias aos azulejos desinteressados.
O novelo da minha vida está por um fio infinito, fiapo frágil da eternidade.
Todas as paredes estão trancadas conforme sua vontade e eu estou fadado a ser uma carta qualquer de um baralho viciado, acanhado entre seus doces dedos, ou nos lábios negros dos cachorros, em pedaços.
Os cachorros dos meus cinco anos brincam com a bola do tempo na porta do meu peito.
A lua não está nem aí.

R.B.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Insomnia - R.B.




Insônia, insônia minha

Me carrega com a nevóa dos teus braços para o palato da boca da noite, boca de pólvora seca; as estrelas são dentes prateados, prantos, prontos para se apresentar num bocejo longo de gato preguiçoso na espera: os peixes voadores ainda rolarão do teto para o colo.

No âmago dos meus olhos goteiras caem no chão fazendo

ploc

como se caíssem dentro dum balde já cheio de sonhos sonhados com água doce do aquário esquecido num quarto enorme, repleto de quadros meus, minha figura, mas com rosto diferente, cabelo diferente, voz diferente, mas ainda assim eu, com o abismo dos meus prantos lembrando o eco dos teus sonhos profundos, onde não há

ploc

caindo feito gota em poça. No quarto não há poça, não há balde, o chão é todo lago, e qualquer gota que cair fará

ploc,

e qualquer ninfa, anjo, seres voadores multicoloridos da poesia intransigente do transtorno do sono, sem remédios para poder contar farão

ploc

e te verei distante, brincando com cavalos alados rolando pela grama, cachorros azuis pulam por borboletas da cidade grande, aprisionadas na imaginação dos muros da avenida Paulista, que não dorme, e ouve

ploc

ploc

ploc

o motor dos caminhões atrapalha a concentração das minhas mãos, minha razão procurando um sinal de qualquer coisa, qualquer santa do aparelho de televisão ornamental, suspenso na parede, inclinado feito ventilador,

ploc

ploc

Insônia, insônia minha, até quando deitarei minha cabeça nas tuas coxas quentes de amazona, até quando terei de abanar meu rabo na espera de um suspiro; até quando a noite passará por mim, se espreguiçará e, com bafo de estrela cadente vai me perguntar

- de onde vem esse barulho de goteira?

Do limite dos meus dedos, das sombras, do colírio vencido dentro do armário, da ponta do meu beijo, do balde que nunca transborda: bom dia que já é hora de acordar.

R.B.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

A Salvação


Só o surrealismo salva!!!