terça-feira, 28 de julho de 2009

Pedro Pedreiro

Tentei.
Juro que tentei. Passei o semestre inteiro lutando por um sonho: publicar um livro.

Como vocês podem imaginar, não consegui. A confusão, a inexperiência, eu mesmo impediram tudo isso. Ainda sou novo, dizem os que se importam comigo. Mas tenho a impressão de que a vida passa sem que eu veja e, quando eu perceber que ela passou, será tarde demais.

No fundo, I´m Pedro Pedreiro:



Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro fica assim pensando
Assim pensando o tempo passa e a gente vai ficando prá trás
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol esperando o trem,
esperando aumento desde o ano passado para o mês que vem
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro espera o carnaval
E a sorte grande do bilhete pela federal todo mês
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol
Esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem
Esperando a festa, esperando a sorte
E a mulher de Pedro, esperando um filho prá esperar também
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro tá esperando a morte
Ou esperando o dia de voltar pro Norte
Pedro não sabe mas talvez no fundo espere alguma coisa
mais linda que o mundo Maior do que o mar,
mas prá que sonhar se dá o desespero de esperar demais
Pedro pedreiro quer voltar atrás, quer ser pedreiro pobre e nada mais, sem ficar
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol
Esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem
Esperando um filho prá esperar também
Esperando a festa, esperando a sorte, esperando a morte, esperando o Norte
Esperando o dia de esperar ninguém, esperando enfim, nada mais além
Da esperança aflita, bendita, infinita do apito de um trem
Pedro pedreiro pedreiro esperando Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando o trem
Que já vem...
Que já vem
Que já vem
Que já vem
Que já vem
Que já vem

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Ler e Escrever

Essa não é a primeira vez que alguém me fala que não consegue ler nada enquanto escreve. Simplesmente senta na cadeira, bate nas teclas, preenche as páginas com letras, enche o estomago de café e bate mais nas teclas, irremediavelmente gastas. Mas e depois, eu pergunto, e depois que já cansou de escrever e espremer a cabeça como se fosse uma tangerina, não lê nem uma palavrinha, nem uma letrinha? Não. Nada.
Meu primeiro pensamento é considerar esse discurso como bullshit. Só pode ser bullshit. Este fulano está se aproveitando da minha inexperiência e quer dificultar meu sucesso – prepotente, não?
Estou completamente convencido de que é impossível você sentar a bunda na cadeira e escrever sem ter lido uma linha sequer de um outro autor. A pessoa pode ler trinta livros num mês e começar a, finalmente, escrever no mês seguinte. De nada vai adiantar ter lido os trinta livros. Ouçam o que eu lhes digo, amigos. D-e n-a-d-a v-a-i a-d-i-a-n-t-a-r t-e-r l-i-d-o o-s t-r-i-n-t-a l-i-v-r-o-s. Isso porque, ler enquanto escreve é a chave de tudo. É permitir que a válvula da criatividade role solta e desça a ladeira até se chocar com alguma velhinha ou cachorro de rua.
É preciso ler alguma coisa para escrever, não se escreve música sem ouvir música, não se dança deitado, não se escreve sem ler. Faz parte do processo.
O próximo passo desse discurso sem eira nem beira, inteiramente motivado pelo saquê misturado com miojo + salsicha + ketchup é, bom ainda não sei qual é. Não estou lendo nada no momento, logo, poucas idéias para copiar ou desenvolver.
Essa abstinência de literatura será minha ruína.
Se eu fico quatro dias sem ler nada começo a perceber que a vida talvez – vejam bem: talvez – seja uma merda. Eu vejo que as paredes de concreto na minha frente não tem tanta graça quanto teriam diante dos olhos da Agatha, os transeuntes não são tão interessantes quanto aqueles que o Sr. Dickens imortalizou. O pior: meu quarto, que tem muito mais coisa que o quarto do Ródia, não desperta nada em mim.
Por mais que os personagens não falem, por mais longo que seja o discurso, é muito mais interessante do que qualquer coisa que eu, ou você, nobre leitor, poderemos produzir. Então, o que fazer? Ler, oras. Ler.
“Não vai ler nada, meu amor?” Pergunta minha mulher segurando o controle da televisão, esperando a novela começar. “Não” respondo. “Hoje vou ver a novela com você”. Percebo que seus olhos – apenas seus olhos – se movem e me olham de soslaio, como se eu estivesse drogado ou algo assim, não diz nada. “Deve estar louco. Alguma coisa aconteceu” pensa. Ela pega a almofada do sofá e a pressiona em seu colo, preparando-se pra qualquer loucura que eu possa cometer. Afinal, estou louco, vai começar a novela e eu não vou ler nenhum livro.
“Você quer a minha revista?” Ela pergunta. “Não, vou ficar com a novela mesmo”. A almofada se dobra em seu colo, fruto de um ataque de nervosismo? Não importa, os personagens na tela se movem com uma naturalidade de chimpanzés andando de skate. Tudo tão natural quanto a cesta de frutas que temos na mesa da sala, aquela que meu avô toda vez que nos visita tenta abocanhar e racha o pivô da dentadura. “Mas eu te amo!” grita o galã da novela, com olhos esbugalhados e mãos na cabeça.
“Se ela também ama ele, pra que exagerar tanto? Pra que gritar? Todo mundo grita nessa novela?” Minha mulher não responde, tenho minhas dúvidas de que ela está até mesmo respirando. “Amor? Se eles se amam e estão juntos, porque ele está gritando e se descabelando por ela?” repito. “Shhhhhh” é a minha resposta. “É isso que eu ganho por querer entender um pouco do que está acontecendo? Quando você me pergunta por que a Ana Karenina está tão triste eu pauso filme e te explico”. Vejo a barra do volume crescendo vertiginosamente e minha voz sendo abafada pela voz gritada de qualquer personagem.
Saudades dos meus livros, silenciosos, vozes no volume certo, gestos críveis. Flagro-me pensando no motivo pelo qual parei de ler.

Esse negócio de não ler nada ainda vai me matar.

“Já que não estou lendo nada, é melhor que eu escreva. Se dá certo por outros, deve dar pra mim também”. Pego meu notebook. Ponho um nome qualquer no começo da tela, à guisa de inspiração e começo. Minha mulher fica aliviada por que não terá mais ninguém para perguntar as coisas enquanto os personagens da novela se beijam na frente da borracharia. Tec tec tec tec tec. Me sinto voando. Imagens vivas, personagens, diálogos, tec tec tec tec tec.
Paro. Leio as quatro páginas que escrevi. Mesmas coisas que escrevo quando estou lendo. Mesmas situações, mesmas posturas, mesmos diálogos sem pé nem cabeça. O lirismo ficou um pouco mais pobre, notei. Como eu previa: bullshit.
“Onde você vai?” pergunta minha mulher, vendo que coloco meu casaco; pego as chaves do carro e rumo em direção à porta.
“Vou pra livraria. Quero escrever um livro.” Respondo e fecho a porta atrás de mim; do corredor ouço o personagem principal da novela gritando: “Quantas vezes eu devo repetir? Eu te amo!”. Imagino suas mãos à cabeça e olhos marejados. Se bem me lembro este ator se vangloria por não ver filme algum enquanto participa da novela: "não vejo nenhum outro ator que admiro quando em períodos que estou atuando" ele diz. Percebe-se, pensei, entrando no elevador.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

segunda-feira, 13 de julho de 2009

A escrita é somente a metade de um monstro que devora a metade de humano

Depois do baque de semana passada eu estava pensando em me afogar nos mares dostoievskianos que sempre me ajudam e me inspiram para escrever. Tava flertando com "humilhados e ofendidos" ou até mesmo com "gente pobre" que sempre me choca. Mas havia algo de estranho no ar. Não era disso que eu precisava. Precisava de algo mais. Até que me deparei com essa frase:

"O homem não é aquele ser que sabe que vai morrer, mas sim aquele que, apesar de o saber, esquece que vai morrer."
Carlos Vaz.

A leitura dessa frase me remeteu à uma série de outras, uma mais fantástica que outra e eu me senti rendido. É engraçado quando lemos algo que mexe com a alma. Esse escritor português me entende.

"A escrita é somente a metade de um monstro que devora a metade de humano."
Carlos Vaz.

Incrível.

Mais incrível ainda é não ter um livro sequer dele aqui no Brasil! Mas eu vou atrás. Pq vale a pena.

Carlos Vaz tem uma boa biografia no wikipedia, depois quem tiver interesse dá um pulo lá e confere.

Vou deixar um link pro blog dele aqui do lado pra se vocês quiserem checar também.

Me despeço hoje, com alma limpa e renovada e com a seguinte frase:

"Face ao abismo das incertezas, cabe-nos o papel de funâmbulo. Somos como palhaços a andar na corda bamba: percebi, não percebi. Apenas uma certeza nos sustém por cima do abismo que nos chama, a corda que nos aguenta – que faz de nós marionetas do espaço."
Carlos Vaz

Nos vemos por aí!

Abraços.

André

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Flamming Stones

Ontem uma pessoa importante para mim deixou este mundo; cá estou eu com a impressão de que não tenho a oferecer em agradecimento pelas experiências que tivemos juntos e por essa pessoa ter tornado minha vida mil vezes mais feliz.

Assim, procurando enlouquecidamente nas gavetas da memória encontrei uma canção que fizemos juntos há mais ou menos 8 anos atrás e eu sei que ele gostava muito.

Fiz o meu melhor pra lembrar de tudo, juro que fiz.

Flamming Stones

I don´t know what I´m gonna do,
if you go.
What am I supposed to say,
If I loose myself?
I read a note wich said, let the wind take you
and you will find your way home.

Walking under flamming stones,
with my bare feet,
trying to find my own way
on my mind

I´m used to be on my own
I´m less dangerous when I´m alone
You used to love me
I´ll use as my gun
I´ll miss you when you´re gone.

Se cuida.

Você sabe que é pra você.
Um beijo na sua alma.

Y.T.F.
RIP
1984-2009

terça-feira, 7 de julho de 2009

Socorro - Arnaldo Antunes


Socorro!
Não estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo
Não vai dar mais pra chorar
Nem pra rir...
Socorro!
Alguma alma mesmo que penada
Me empreste suas penas
Já não sinto amor, nem dor
Já não sinto nada...
Socorro!
Alguém me dê um coração
Que esse já não bate nem apanha
Por favor!
Uma emoção pequena, qualquer coisa!
Qualquer coisa que se sinta...
Tem tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva
Qualquer coisa que se sinta
Tem tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva...
Socorro!
Alguma rua que me dê sentido
Em qualquer cruzamento
Acostamento, encruzilhada
Socorro!
Eu já não sinto nada...
Socorro!
Não estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo
Nem vontade de chorar
Nem de rir...
Socorro!
Alguma alma mesmo que penada
Me empreste suas penas
Eu Já não sinto amor, nem dor
Já não sinto nada...
Socorro!
Alguém me dê um coração
Que esse já não bate
Nem apanhaPor favor!
Uma emoção pequena qualquer coisa!
Qualquer coisa que se sinta...
Tem tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva
Qualquer coisa que se sinta
Tem tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva...

sábado, 4 de julho de 2009

Verbo

Tu me apareceste num quatro de julho, um dia como este, tu decidiste que me deixaria, num quarto de julho como este, tu me disses que não se lembrava de mim, que nunca tinhas me visto antes, que não poderias me amar, num quatro de julho como este.
Tu andas pelas tantas, bamba, santa manca dos meus sonhos servis, em quatros de julho como este. O meu céu é o teu chão de esmeraldas, e todas elas aniversariam em quatro de julho.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Três Letras

Então eu disse: sim; naquele exato momento, da voz abrindo o caminho à força entre os dentes, rolando pela língua, atingindo o ar com essas três letras: S-I-M, eu esperava ouvir o som da trombeta dourada do cúpido ou dum serafim; esperei uma mudança na feição das pessoas à minha volta, os objetos tomariam vida e dançariam em ciranda como crianças na chuva, os objetos reluziriam a ponto de machucar meus olhos... Aí eu disse sim. As paredes permaneciam pálidas, simplesmente pálidas; o copo de cristal marcado com o batom inerte ao lado do prato pouco tocado, talheres refletiam um rosto sem expressão. A única canção que chegava aos meus ouvidos vinha de suas mãos batendo na mesa, esfregava uma na outra de felicidade. Um sorriso amarelo me encarou, feliz da vida; não resisti, comecei a chorar. As minhas lágrimas fizeram-no sorrir mais, um sorriso débil, vindo diretamente da alma. Encarava meus olhos e não entendia. Eu tentava acompanhar seu sorriso - eu juro!-, mas meus lábios salgados desenhavam algo que não era sorriso, também não era dor. Ah, eu disse sim.
Mãos quentes seguravam as minhas enquanto um frio glacial percorria meu corpo em queda-livre, tremia. Meus dedos ficavam vermelhos de tão forte que as mãos do meu destino as apertava; não as soltava com medo de assustá-lo e transparecer qualquer sinceridade indesejada. Eu te amo, ele me dizia e repetia ecoando uma resposta minha. As lágrimas que insistiam em se jogar dentro do copo de champanhe me sufocavam. Um brinde, ele gritou; ergueu o copo, engoliu tudo de uma vez só, seus medos, expectativas, receios, tudo borbulhava no seu estomago vazio. Brindei às lágrimas refletidas no cristal, se misturando ao champanhe que não engoli ao todo. O sim martelava o fundo da minha nuca. Sim, sim, sim, sim! Impedia que ouvisse meu coração me perguntando, talvez.
No caminho para casa algo reluzia em minha mão, entre meus dedos, um brilho de esperança, um brilho muito parecido com aquele emanado pelos olhos dele; a luz de um sonho, do tamanho de uma pinta. Eu te amo ele dizia e repetia torcendo por uma resposta minha. Me arrancava de mim mesma, não conseguia me concentrar; me limitava às infinitas possibilidades de uma vida dedicada à família, aos filhos que não vieram, ao emprego que não desejei.
Chegamos em casa, senti suas mãos em minha cintura e seus lábios fervendo na minha nuca, dançou com meu corpo em suas mãos, sem música, sem compasso; tropeçamos na mesa e caímos no sofá. Joguei o peso do meu corpo em cima do seu. Você quer dormir, perguntou. Eu respondi que não; um não engasgado há muito tempo agora liberto. NÃO! Ele me abraçou, voltei a chorar em seus braços. Por que não saíram antes. Por que não me salvaram? A partir de hoje, pensei sentindo suas mãos em minhas coxas, seus beijos nos meus ombros, escolherei as três letras,no momento certo as direi, eu devo isso a mim.
Você está bem, ele perguntou. Sim, menti e me perdi na carta marcada jogada em cima da mesa de centro.