sábado, 31 de outubro de 2009

Mauricio de Almeida

e sobre seus próprios pés de peito esfolado ele se ergueria, estendendo os braços com o esforço de um Golias em dúvidas para encarar os olhos de escárnio e as bocas aflitas daqueles dois que murmurariam a estranheza de vê-lo desconfortável debaixo de tantos pés. E ainda que sentisse o peso de tudo e a boca cheia de ódio, fincava os dentes nos lábios para aos poucos se afogar também no sangue que lhe descia até as amídalas, deixando um gosto amargo de ferrugem, pois pouco podia fazer enquanto todos estivessem enfiados calmamente em suas monotonias.
E nem mesmo um
- seus imbecis
tiraria a mãe de sua confissão aos prantos sobre a eterna incapacidade de mudar, nem mesmo um
- seus putos imbecis
alteraria sequer uma vírgula do monólogo que escorria junto à torneira...

Maurício de Almeida, Beijando Dentes. Ed. Record.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Lavoura Arcaica - Raduan Nassar

"Os olhos no teto, a nudez dentro do quarto; róseo, azul ou violáceo, o quarto é inviolável; o quarto é individual, é um mundo, quarto catedral, onde, nos intervalos da angústia, se colhe, de um áspero caule, na palma da mão, a rosa branca do desespero, pois entre os objetos que o quarto consagra estão primeiro os objetos do corpo;"

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O Circo

O manto de luz deixa o picadeiro
banhado pelo lábio ardido do vento,
enquanto alguns distintos palhaços,
varrem o resto dos seus pedaços.

Se a flor ainda estiver viva
que respire o resto de alento,
e que a vista não confunda
qualquer silêncio com assentimento.

Um dia o leão se cansa de rugir
e seus colegas cantam o mesmo tom.
Um dia a barba da mulher recusa-se a surgir
e os aplausos não emitem algum som.

Hora de recolher a lona por mãos feitas de sombra
apagar a chama no peito ardido do homem-bomba.
Pois no fim sobram sempre os mesmos palhaços
varrendo o resto dos meus pedaços.

Ricardo Bruch
De ponta cabeça no trapézio, 22 de outubro de 2009

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Goethe e a criação

Goethe dizia que toda busca envolve vários erros. Quem não tem coragem de errar não dá um passo novo e prefere trilhar caminhos que já foram trilhados, citando e analisando o que já foi dito antes.

É preciso livrar-se do compromisso com o êxito para poder criar. O êxito, como objetivo, é castrador da criatividade e pode até significar concessão à mediocridade.

sábado, 17 de outubro de 2009

Árvore de Natal - Trecho

Eis um trecho de um conto de minha autoria denominado Árvore de Natal:


Árvore de Natal
Para M.B.F

Eu queria sussurrar no teu ouvido que essa cidade é uma árvore de natal gigante, que os semáforos são bolas que a enfeitam, que os postes de luz circundam seu corpo e reluzem pelos quatro cantos dos seus olhos. As pessoas, os carros, as almas em revelia são atavios pendurados nos enormes galhos de concreto. Almas aladas se dependuram no topo de arranha-céus ou se fincam na base, espreguiçados nas calçadas, mas não importa onde estão, todos, sem exceção, dançam sapateando pelas bordas do seu limite, se aventuram na boca do abismo, pulam das suas mãos para sua cabeça, pras suas entranhas, em busca algo que não se define nem se identifica.
R.B.
Não concluído, ainda.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

VISITEM!!! ROTEIRISTA BRASILEIRO FAZENDO ARTE EM L.A.

O título do post lembra à filme do Eddie Murphy na sessão da tarde? ou seria do Chevy Chase? Pode até ser do Ashton Kutcher antes de pegar a Demi Moore, mas a verdade é que um grande cara está em Los Angeles, rocking the modafucking house, breaking the gringas heart e, quando não está ocupado fazendo a primeira opção ou a segunda, se dedica à um curso para roteiristas bem bacana!
Não deixem de visitar que é bem legal.

A-Head é o título do blog.

Um abraço pra todo mundo.
André.

Blog A-Head
http://mtv.uol.com.br/ahead/blog/estreia-saiba-tudo-sobre-um-roteirista-que-tenta-vida-em-los-angeles

Recomendação

E aí Rapaziada? Tudo tranquilo?
Interrompi meus estudos rumo à magistratura paulistana para honrar um dos meus maiores ídolos: "Chiquinho" Buarque de Holanda.
Está nas livrarias um livro chamado História das Canções: Chico Buarque de Wagner Homem.
O livro conta as histórias por trás das letras, com comentários do Chico e tiras de jornal da época. Bem bacana mesmo.
Está aí minha indicação.



quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Cocktail Party - Mario Quintana


Não tenho vergonha de dizer que estou triste,
Não dessa tristeza ignominiosa dos que, em vez de se matarem, fazem poemas:
Estou triste por que vocês são burros e feios
E não morrem nunca...
Minha alma assenta-se no cordão da calçada
E chora,
Olhando as poças barrentas que a chuva deixou.
Eu sigo adiante.
Misturo-me a vocês.
Acho vocês uns amores.
Na minha cara há um vasto sorriso pintado a vermelhão.
E trocamos brindes,
Acreditamos em tudo o que vem nos jornais.
Somos democratas e escravocratas.
Nossas almas? Sei lá!
Mas como são belos os filmes coloridos! (Ainda mais os de assuntos bíblicos...)
Desce o crepúsculo
E, quando a primeira estrelinha ia refletir-se em todas as poças d'água,
Acenderam-se de súbito os postes de iluminação!

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Bon Iver - Lump Sum

Rapaziada, dando uma olhada nos blogs que estão aqui do lado, achei o do escritor lusitano Carlos Vaz. Nunca imaginei que ia encontrar o que encontrei: Bon Iver. Certamente o nome desse rapaz não remete à nada logo, em tese, não se poderia dispensar apresentações, mas nesse caso irei contra as convenções.

Não vou apresentá-lo. O nome é Bon Iver e a música é Lump Sum. O resto é com vocês.

Divirtam-se

R.B.

Clarice Lispector

Eu confesso que não tenho conseguido escrever nada que preste para compartilhar aqui com vocês, portanto, até que me sinta confiante para postar algo novo, nem que sejam versinhos que faço para minha mulher, vou colando trechos de livros que eu gosto muito.
Este abaixo é da Clarice Lispector. Espero que gostem.

"Se um dia eu voltar a escrever ensaios, vou querer o que é o máximo. E o máximo deverá ser dito com a matemática perfeição da música, transposta para o profundo arrebatamento de um pensamento-sentimento. Não exatamente transposta, pois o processo é o mesmo, só que em música e nas palavras são usados instrumentos diferentes. Deve, tem que haver, um modo de se chegar a isso. Meus poemas são não-poéticos mas meus ensaios são longos poemas em prosa, onde exercito ao máximo a minha capacidade de pensar e intuir. Nós, os que escrevemos, temos na palavra humana, escrita ou falada, grande mistério que não quero desvendar com o meu raciocínio que é frio. Tenho que não indagar do mistério para não trair o milagre. Quem escreve ou pinta ou ensina ou dança ou faz cálculos em termos de matemática, faz milagre todos os dias. É uma grande aventura e exige muita coragem e devoção e muita humildade. Meu forte não é a humildade em viver. Mas ao escrever sou fatalmente humilde. Embora com limites. Pois do dia em que eu perder dentro de mim a minha própria importância — tudo estará perdido. Melhor seria a empáfia, e está mais perto da salvação quem pensa que é o centro do mundo, o que é um pensamento tolo, é claro. O que não se pode é deixar de amar a si próprio com algum despudor. Para manter minha força, que é tão grande e helpless como a de qualquer homem que tenha respeito pela força humana, para mantê-la não tenho o menor pudor, ao contrário de você. Ficaram em silêncio."

Elegia Urbana - Mario Quintana

Eu não sei se tive oportunidade de dizer isso aqui antes, mas sou aficcionado por poesia. Não tenho um poeta favorito, mas leio com freqüência Drummond, Quintana, Rimbaud, Piva e etc... sempre que achar algum poema oportuno, postarei aqui.

Ontem eu devia ter postado esse aqui, mas não tive tempo, então segue, para que todo domingo ele seja lembrado:

ELEGIA URBANA - Mario Quintana

Radios. Tevês.
Goooooooooooooooooooolo!!!
(O domingo é um cachorro escondido debaixo da cama)



Boa Semanas para todos.
R.B.

sábado, 3 de outubro de 2009

Oposição

"É preciso abrir-se mesmo em face da oposição mais hostil. Ainda que nada nos motive, devemos sempre desfolhar as pétalas do coração"

Rinpoche