sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Ai de mim!

Ai de mim!
Ai de mim!
O que poderia ter sido
E não sou.
Nada.
Nada.
Senão essa porta batida do coração
A janela do terceiro andar dos teus olhos.

Ai de mim!
A garganta fechada,
As visões sem direção,
As lágrimas desencontradas em nossas bocas,
O medo rondando nosso jardim.

Tudo o que queria,
E não sou.
As sombras na sala esperam o baralho,
Eu espero o corte
A dor e o sangue
Preso ao redor dos olhos
Da noite

Ai de mim!
Ai de mim!
Que danço no escuro
Que rio baixinho
Que perco a voz te chamando
Para sair de uma vez por todas
Dos meus sonhos
E cair nos meus braços

Cão

Às vezes não me identifico com nada
Que não seja aquele cachorro velho
Que de repente pára
Pensando na vida
Ou na morte.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Eu te espero

Eu te espero,
Ainda que demore,
Que chova e o vento destelhe as casas,
Que os cães e eu fiquemos sem abrigo.

Eu te espero,
Ainda que esteja cansada demais para um carinho,
Que te bastam a sopa, a cama, o sono atrasado de noites em claro.

Eu te espero,
Ainda que o tempo não passe,
Que sejam dez para as onze para sempre,

Ainda que ele decida passar rápido demais
a ponto de esquecer que nem sempre fui careca e barrigudo.

Eu te espero,
Ainda que sem assunto,
Ainda que no mundo toda notícia que sucedeu teu nascimento seja enfadonha,
Ainda que não tenha o futebol,
Ainda que subam os juros,
façam-se novas leis e festas,
Ainda que insistam nas tragédias,
e haja poesia por demais esquecida.

Ainda que seja primavera,
Eu te espero,
Porque sem você,
A vida é só uma tela em branco.