terça-feira, 13 de abril de 2010

Destino

Eu sonhava uma gota de suor disfarçada de lágrima, minha intenção era rolar pela sua nuca, deslizar pela linha central das tuas costas, lamber toda sua nádega e cair no lençol, para secar lentamente, debaixo das hélices do ventilador de teto. Mas nasci dos teus olhos, me estrupiei em teu nariz e fui sem querer engolido por tua boca. Sua língua logo me misturou com saliva e me tornei algo que foi engolido sem perceber.

Transpirávamos muito; todas as vezes que tentei te abraçar você me afastou com os braços, jogou o lençol no chão e por pouco não me jogou pra fora da cama, afastando as pernas e os braços, para que o ventilador pudesse refrescar cada canto do seu corpo. Você está com sede, perguntei, mas você não respondia, estava longe, voando pelos arredores do quarto ou da cidade, brincando de ser anjo ou de ser estrela. Me levantei sussurrando para o abajur, vou pegar um copo de água, tropecei no meu chinelo e por pouco não bati com o dedo na quina da porta. A casa inteira parecia um forno, meu pé deixava pegadas úmidas no chão e um segundo em que a luz da cozinha ficou acesa foi o suficiente para todo o lugar ficar infestado de mosquitos. Bebi um copo de água, pensei em fumar um cigarro, mas achei que você ia sentir minha falta e decidi voltar logo para o quarto. Tropecei logo nos primeiros de degraus, olhei para trás, não encontrei nada. Mal conseguia localizar o primeiro degrau da escada, a sala inteira estava engolida por um breu. Apoiei me na parede e olhei atentamente para o chão, o próximo degrau estava claro diante dos meus olhos, mas apenas ele. Dei um passo, depois o outro, fui subindo lentamente, mas lá pelo décimo degrau notei que a escada parecia não ter fim. Segui mais alguns passos e apenas distinguia o próximo degrau a minha frente, atrás, apenas o breu.

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