sábado, 31 de outubro de 2009

Mauricio de Almeida

e sobre seus próprios pés de peito esfolado ele se ergueria, estendendo os braços com o esforço de um Golias em dúvidas para encarar os olhos de escárnio e as bocas aflitas daqueles dois que murmurariam a estranheza de vê-lo desconfortável debaixo de tantos pés. E ainda que sentisse o peso de tudo e a boca cheia de ódio, fincava os dentes nos lábios para aos poucos se afogar também no sangue que lhe descia até as amídalas, deixando um gosto amargo de ferrugem, pois pouco podia fazer enquanto todos estivessem enfiados calmamente em suas monotonias.
E nem mesmo um
- seus imbecis
tiraria a mãe de sua confissão aos prantos sobre a eterna incapacidade de mudar, nem mesmo um
- seus putos imbecis
alteraria sequer uma vírgula do monólogo que escorria junto à torneira...

Maurício de Almeida, Beijando Dentes. Ed. Record.

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