sábado, 7 de novembro de 2009

Trecho - Sombras

Logo pela manhã não me sentia muito bem; ontem quando o sol se despediu não me sentia nada melhor. Algo ardia dentro de mim, podia ser o começo de uma gripe. Para piorar minha condição fiquei o dia inteiro de pé no ponto de ônibus,sem que nenhum aparecesse, isso apenas abrandou meu cansaço. Tudo o que eu mais queria era deitar e dormir.

Quando desci do taxi improvisado, um pequeno prédio desafiava as alturas com seus poucos andares e, ao mesmo tempo, tocava o lamaçal que um dia fora um jardim diante da recepção. Não conseguia distinguir muito bem as figuras à minha frente, mas entre a realidade e o bloco de concreto, algumas crianças passaram voando.

Não imaginava que adiariam o congresso para o dia seguinte, por isso tencionava chegar, ler meu discurso e ir embora; não pretendia ficar mais que seis horas na cidade: mas era preciso mudar os planos, precisava descansar e ficar num desses quartos de hotel é mais seguro do que dormir na rua ou num albergue.

Meus passos cruzaram a esmo a porta de entrada e chegaram ao que se diria fazia às vezes de recepção. A atendente, muito atenciosa, perguntou o que eu vinha achando da cidade. É linda. Foi tudo que consegui inventar na hora. Ela sorriu e desviou o olhar para ver o que o filho estava fazendo escondido debaixo do balcão. Assinei os papeis e, carregando minhas únicas peças de roupa no corpo, subi para o segundo andar.

A imagem de uma cama toda feita de tubos de metal e um colchão fino como uma folha de papel saltaram diante dos meus olhos. Minha coluna reclamou com um estalo premonitório.

A porta do quarto estava aberta. Entrei e fechei-a sem trancar. Deitei na cama que se apresentou muito mais confortável do que eu imaginei. Observei o céu pela janela que já estava aberta. O céu roxo era maquiado por nuvens alaranjadas. Gosto do pôr-do-sol alaranjado, me lembra uma Petersburgo que não conheci senão dentro de mim mesmo. As luzes da rua se acenderam e tudo se fez noite num único instante. Certamente os prédios começaram a luzir aqui e ali, as esquinas, as lojas e os restaurantes perdiam seu ar lúgubre.Toda a cidade se transformou diante de mim, ao meu redor e não pude deixar de rir. Como um raio de luz pode mudar tudo, simplesmente tudo!

R.B.

06.11.09

Um comentário:

Massahiro disse...

Show. Esse ficou sensasional... now, now, what's with Petersburgo?! Alguma tara?
Anyways, muito bom. Só o primeiro parágrafo pro segundo, a idéia parece que leva a pensar que ele (o personagem narrador) estava de ônibus, e no parágrafo seguinte apresenta ele descendo do carro O.O.