quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Pretensões

Eu não tenho pretensões, confesso que as tive num dia não muito distante, mas hoje, decidi. Eu não tenho e nem quero ter pretensões.

Elas nascem de um sonho; aquele sonho bom, que não se tem vontade de acordar. Por isso, enfeitiçado, deixei que se aproximassem de mim.

Logo criam braços e pernas, não altos nem fortes o suficiente para superar obstáculos; aprendem algumas coisas, mas não ficam inteligentes o bastante para defender sua existência; nem tão independentes para pensarem por si mesmas e abandonar este pobre hospedeiro, que não dorme há dias, com medo dar vida à novas pretensões e acabar sufocado por elas durante o sono.

As pretensões envelhecem, mas não como nosso corpo. Você vai envelhecer vinte anos e a pretensão ainda será criança, nova, descobrindo as coisas belas e ignorando as reais da vida. Insuportavelmente nova demais para meus olhos.

Eu matei minha pretensão.

Num golpe certeiro, no coração que pulsava forte.

Cansei-me do seu riso, da sua determinação e inocência. Aquela voz fina e infantil dizendo: continue, continue, insista, persista, você pode.

Chega! Eu gritei.

Vá e me deixe, que eu estou cansado. Vá e junte-se às demais pretensões que invadiram minha cabeça. Deve ter sido a gravidade e o volume da minha voz, mas elas me obedeceram e sumiram. Para sempre.

Orgulhoso, eu vejo que aprendi a lidar perfeitamente com as pretensões.

Agora, nestes instantes finais, preciso descobrir o que vou fazer com o fantasma de cada uma delas: as frustrações.
R.B.

Um comentário:

Massahiro disse...

As pretensões envelhecem, mas não como nosso corpo. Você vai envelhecer vinte anos e a pretensão ainda será criança, nova, descobrindo as coisas belas e ignorando as reais da vida. Insuportavelmente nova demais para meus olhos.


Essa parte foi sensasional.
A única pretensão que permanece é a de que um dia a morte nos alcança pretensiosamente xD