segunda-feira, 13 de junho de 2011

Insomnia - R.B.




Insônia, insônia minha

Me carrega com a nevóa dos teus braços para o palato da boca da noite, boca de pólvora seca; as estrelas são dentes prateados, prantos, prontos para se apresentar num bocejo longo de gato preguiçoso na espera: os peixes voadores ainda rolarão do teto para o colo.

No âmago dos meus olhos goteiras caem no chão fazendo

ploc

como se caíssem dentro dum balde já cheio de sonhos sonhados com água doce do aquário esquecido num quarto enorme, repleto de quadros meus, minha figura, mas com rosto diferente, cabelo diferente, voz diferente, mas ainda assim eu, com o abismo dos meus prantos lembrando o eco dos teus sonhos profundos, onde não há

ploc

caindo feito gota em poça. No quarto não há poça, não há balde, o chão é todo lago, e qualquer gota que cair fará

ploc,

e qualquer ninfa, anjo, seres voadores multicoloridos da poesia intransigente do transtorno do sono, sem remédios para poder contar farão

ploc

e te verei distante, brincando com cavalos alados rolando pela grama, cachorros azuis pulam por borboletas da cidade grande, aprisionadas na imaginação dos muros da avenida Paulista, que não dorme, e ouve

ploc

ploc

ploc

o motor dos caminhões atrapalha a concentração das minhas mãos, minha razão procurando um sinal de qualquer coisa, qualquer santa do aparelho de televisão ornamental, suspenso na parede, inclinado feito ventilador,

ploc

ploc

Insônia, insônia minha, até quando deitarei minha cabeça nas tuas coxas quentes de amazona, até quando terei de abanar meu rabo na espera de um suspiro; até quando a noite passará por mim, se espreguiçará e, com bafo de estrela cadente vai me perguntar

- de onde vem esse barulho de goteira?

Do limite dos meus dedos, das sombras, do colírio vencido dentro do armário, da ponta do meu beijo, do balde que nunca transborda: bom dia que já é hora de acordar.

R.B.

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