segunda-feira, 18 de maio de 2009

There´s still time

Obviamente não sou crítico de cinema, nem de literatura, nem de teatro, muito menos de culinária. Também não sou comentarista de esportes, não tenho coluna social e o livro da Glória Khalil que minha tia me deu de aniversário eu troquei por três obras do Marquês de Sade. Não entendo quase nada de Direito, Administração, Economia e Poesia, deveria?
Sou casado, não tenho filhos, tenho um gato, um cachorro e, como hobby estrangulo periquitos que assobiam Sweet Child O´Mine do Guns and Roses aos domingos ( fiquem tranqüilos, estou tratando da minha bipolaridade com muito Polaramine e Amarula). Tento, outrossim, curar a minha fixação por dizer à torto e à direito aos outros que sou casado, tenho um gato, um cachorro e que estrangulei um periquito, sempre com muita Amarula, Polaramine e remédio pra calvície. Por fim, eu não gosto de blogs (???), mas eu gosto de escrever. E gosto muito dessa peça que está para sair de cartaz no próximo dia 28 de maio.

Monólogos de Uma Velha Apresentadora, estrelando Alberto Guzik e Chico Ribas. Escrito pelo Marcelo Mirisola, um escritor famoso que tem fama de Maldito não sei por que diabos. Mas isso eu disse em outra oportunidade e só vou me repetir quando achar que ninguém mais lembra nem de mim, nem do que eu disse – isso deve dar uma semana ou duas.

Além do texto muito bem escrito, a atuação do Guzik e do Chico Ribas são surpreendentes. Digo isso porque neste monólogo você ri, pensa e se impressiona, quase tudo ao mesmo tempo.

Agora um pequeno infante, um menininho se aproximaria de mim, com olhos de cachorro abandonado faminto, olharia nos meus olhos e perguntaria: “Seu Bostó, mas por que caralho você tá falando disso aqui?”.

Eu respondo, pequeno Jimmy, eu respondo!

Eu recomendo essa peça por uma questão de gosto (ah vá!) e para tentar recolocar a palavra merecimento de volta ao dicionário. Quero que as pessoas ao consultar o Sr. Aurélio se lembrem do que é ter mérito e o quanto isso é importante e necessário (momento redação da FUVEST). Não pequeno Jimmy, não estou me referindo àquela medalha que você ganhou na escola, mesmo sem saber dar uma única cambalhota. Me refiro ao merecimento real, nada de honra ao mérito pra mamãe achar que você ao menos tem capacidade pra jogar queimada.

Eu particularmente não me lembro da última vez que alguém foi reconhecido por alguma coisa boa que fez ou pela criação de algo de qualidade, in casu. Digo realmente reconhecido, com louros da vitória, modelo peituda e cheque gigante estilo americano. Esclareço que ser reconhecido pela mãe, pai, avô/avó, namorado(a), cachorro, gato e periquito que assobia Sweet Child O´Mine não conta; eles provavelmente limparam a sua bunda, acham o seu arroto sexy e propagam que você é a reencarnação de algum ente divino por nessa idade ainda conseguir roer as unhas dos pés.

Talvez a culpa seja minha. Eu tenho problemas com mérito. Só consegui esse blog porque paguei para a minha esposa (“Se você odeia blog, por que ter um?”, ela diz. “Ah amore, vai ser legal falar do meu nariz escorrendo, de limpar a bunda, coisa e tal” eu suplico. “Não sei” ela é dura na queda. “Deixa vai, deixa vai, deixa!” de joelhos. “Cinqüenta conto e a cama só pra mim por uma semana” essa menina devia vender enciclopédias on-line). Se dependesse de mérito eu jamais teria saído da sétima série.

O texto da “Velha” é inteligente, rápido e pra quem sabe os bastidores dos teatros de revista e de algumas personalidades pátrias (que também acho que se esqueceram o que é mérito), é surpreendente; como foi que o escritor conseguiu todas essas informações secretas? E outra, porque será que a Globo ainda não mandou ele pra fora do país como fez com a Glória Maria? Só vendo a peça pra saber que informações secretas são essas e porque esse escritor ainda está entre nós.
O Guzik lembra meu pai (palavras do Massa). Além disso, tem mais tempo de palco do que urubu de vôo. No blog dele, ao lado, tem um post falando do dia em que acabou a luz no teatro e ele, com as técnicas de indução coletiva do Subconsciente do Dr. Joseph Murphy, enganou todo mundo e fez com que achássemos que tudo fazia parte da encenação teatral.
O Chico Ribas é um rapaz que rouba a cena – palavras de um colega de trabalho que perguntou se tinha jeito de tirar uma foto com o menino. “Acho que tem que ter um certo mérito”. Respondi. Meu colega não tem mérito nenhum, então ficou sem a foto. Por sinal, nesse dia do apagão o Chico Ribas teve um “insight”, uma inacreditável rapidez no raciocínio que o levou a ser aplaudido quase de pé. Manda muito bem o rapaz.

Enfim, porque toda a propaganda? Por que é uma excelente peça e ninguém fala nada. Por ser o trabalho de gente capacitada, inteligente e que faz as coisas com o coração e com a alma. É possível ignorarmos isso? Ignorar o suor e o esforço do coração e da alma?
Contenha as lágrimas pequeno Jimmy.

Eu entendo que é mais proveitoso ir na peça do primo do seu amigo e aplaudir mesmo após ter dormido os três primeiros atos e ter ficado brincando com o Iphone no momento final; eu entendo que se te pagassem você iria tranquilamente até o Camboja, mesmo sem fazer idéia onde fica esse lugar; eu sei que contatos é a alma do negócio e que ninguém vai ler esse post por que me falta mérito (e talento, mas não preciso ser meu algoz, não agora). Não se pode ignorar a porra de um trabalho bem feito.
Daqui alguns anos, pequeno Jimmy, não haverá mais nada de qualidade nesse mundo; não haverá nem livros, nem peças, nem música, nem pornografia de qualidade. Terão apenas os filhos, primos, padrinhos e suas respectivas companheiras e periquitos que assobiam melhor que eu e cujo o mérito eu sei que eles têm em algum lugar entre o BBB e o top 10 de qualquer revista íntegra e compromissada com tudo menos com aquela coisa... como chama... é... ah sim... o mérito.

Eu entendo que colocar a patotinha exclusiva dos churras de domingo na tevê deve ser bem legal, como deve ser bem legal institucionalizar o bingo do puteiro e o futebol de quarta-feira. Mas a cultura deve ser isenta de tudo isso, sob pena de perdermos o controle e não termos, dentro de algum tempo, nada que preste pra ver ou fazer. Meio sério o problema.

É tarde e eu não tive tempo de re-ler o post, nem de melhorar as piadinhas e nem de ver se tudo isso fez sentido; o tempo voa. A peça saí de cartaz no dia 28 de maio, data em que pretendo estar lá – podem levar as câmeras fãs de plantão.


Eis o link da peça:

http://satyros.uol.com.br/noticia.asp?id_destaque=21

Na semana que vem tratei um texto bem trabalho, bem escrito, digno de mérito para o deleite de vocês.

Até lá.

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